8 de setembro de 2011

A História do Mundo – Capítulo 15

OS VAGABUNDOS DAS AREIAS
David Coimbra

Quando o nômade Abraão pisava na areia do Oriente Próximo com suas sandálias de couro, por volta de 1850 a.C., o Egito já era velho de mais de dois mil anos e o Reino Médio já contava um século e meio de história.
Até então, o Egito havia se mantido infenso a qualquer influência estrangeira. Autossuficientes e sofisticados, os egípcios chamavam os povos asiáticos de “os vagabundos das areias”. Apesar de o país estar cercado pelas areias dos desertos, não era sobre elas que os egípcios viviam e sim sobre a terra fertilizada pelo Nilo, que chamavam de “Terra Preta”, a terra da vida. O deserto que se estendia, ameaçador, rumo ao infinito era chamado de “Terra Vermelha”, a terra da morte. Não por acaso, foi na Terra Vermelha que eles plantaram as pirâmides. Ou seja: os seus túmulos.
A geografia, portanto, ajudava os egípcios a se isolarem. Porque, para acessá-los, outros povos tinham de atravessar o deserto de um lado ou o mar de outro. Também a política os mantinha intocados. O Egito era um país, ao contrário da maioria dos Estados de então, que eram cidades-estado.
O auge desse estado centralizado e progressista deu-se no reinado do faraó Amenemhat III, entre 1860 e 1814 a.C. Esse faraó foi um grande construtor. Fez barragens e canais que facilitaram a vida dos agricultores. Levantou uma pirâmide famosa, a chamada Pirâmide Negra, mas, por algum motivo, não quis ser sepultado nela e a deixou para servir de túmulo às suas rainhas. Ergueu também um palácio magnífico, um prédio suntuoso com mais de três mil salas. Para você ter ideia do que significa isso, lembre-se que o Palácio de Versalhes tem “apenas” 700 quartos. Os Luíses da França não amarravam a sandália canhota dos faraós.
Porém, ah porém, depois do auge inevitavelmente vem a decadência. Os sucessores de Amenenhat III envolveram-se em disputas com os governadores da província, o estado se enfraqueceu e alguns estrangeiros passaram a se infiltrar na região do Delta. Era o começo da mudança. Duas raças semíticas, em especial, transformariam o Egito para sempre. Uma delas foi a dos descendentes de Abraão, a outra foi a dos misteriosos guerreiros hicsos.
Esses hicsos vieram da Palestina. Eram conhecidos como os “Reis Pastores”. Na verdade, não passavam de bárbaros. Nômades famintos e sujos, vestidos com peles, incultos e sanguinários. Como conseguiram derrotar uma civilização muito mais avançada? Por terem algo que os egípcios não tinham:
O cavalo.
Usando cavalos e carros de guerra, os hicsos saquearam cidades, violentaram mulheres, assassinaram homens, queimaram casas, derrubaram monumentos e se fartaram à grande. Mas não foram embora; estabeleceram-se. E então a roda da vida pôs-se a girar. Porque o homem, uma vez preso à terra, busca a comodidade. Ele quer um teto para morar, quer uma mulher que lhe dê filhos, ele quer a comida farta e a bebida capitosa, ele quer se divertir em paz. Ele se civiliza. Então, engorda e amolece. E é conquistado por outros bárbaros inquietos que vêm de fora.
No caso dos hicsos, não foram bárbaros estrangeiros que os derrotaram, mas os próprios egípcios, que incorporaram o cavalo e o carro de guerra aos seus exércitos e, depois de 200 anos, um nada para um egípcio, expulsaram os invasores e retomaram o controle do país.
Começaria aí uma nova era de prosperidade. Mas antes de falar nela é preciso contar algo sobre outro povo que havia se infiltrado no outrora hermético Egito: os hebreus de Abraão. Eles merecem um capítulo à parte. O próximo de A História do Mundo.

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