25 de agosto de 2011

A História do Mundo – Capítulo 10


HOMENS LIVRES NA ALMA
Akhenaton rebelou-se contra um mundo antigo – o Egito foi a segunda grande civilização da História. Em primeiro lugar surgiram os sumérios; depois, os egípcios. E, como no caso da Suméria, a grandeza do Egito foi forjada ao longo de um rio, o Nilo.
“O Egito é uma dádiva do Nilo”, escreveu Heródoto. E escreveu bem. O Egito vive em função do Nilo e só existe graças ao Nilo. Para compreender como as coisas aconteceram, pense no mapa da África. Ou, melhor, abra o Google Earth. Você verá que o Egito se situa numa das áreas nevrálgicas do planeta, no nordeste do chamado Continente Negro. Note que ali em cima, à direita, bem perto, brame e ruge o Oriente Médio. Lá estão Israel, a Jordânia, o Líbano, a minúscula Faixa de Gaza, todos aqueles lugares pequenos e perigosos. Entre o Egito e essa região trepidante estende-se o Mar Vermelho, o tal que Moisés abriu para que os hebreus passassem. Pensando nesse episódio, na Passagem do Mar Vermelho, você entenderá como o Egito fica próximo da Palestina e de todas aquelas complicações milenares. É possível que você argumente: “Mas os hebreus vagaram 40 anos no deserto antes de encontrar a Terra Prometida, de onde vertia leite e mel”. É verdade, só que eles ficaram 40 anos praticamente andando em círculos, jamais em linha reta.
Sabe por que esse tempo, 40 anos? Não foi por acaso. Foi um período escolhido por ninguém senão o próprio Javé, o deus ciumento, possessivo e vingativo dos hebreus. Javé pretendia purgar o povo dos vícios gerados pelo antigo estilo de vida. No Egito eles eram escravos. Agora, eram homens livres. Para que a Terra Prometida fosse habitada apenas por homens livres também na alma, homens que nunca tivessem sentido o travo da escravidão, Javé fez o povo esperar a extinção de toda uma geração. Quando o último escravo dentre eles morreu, a Terra Prometida foi alcançada.
Muito simbólico, não é? Reflita sobre isso e você entenderá que os traumas de um povo só são encerrados depois de uma geração inteira. Assim ocorreu com os dramas das duas guerras mundiais do Século 20. Só depois de toda uma geração de paz a Europa encontrou a serenidade.
Mas voltemos ao Google Earth. É importante você visualizar essa região do planeta. Os destinos do mundo são traçados ali, e faz tempo isso.
Se você deslocar a visão um pouquinho, da direita para a esquerda, verá a artéria azul do Rio Nilo serpeando pela terra seca. Lá em cima, no Norte, está o chamado “Delta”. O rio vai descendo para o Sul com cidades históricas grudadas ao seu leito: Cairo, Gizé, Luxor… E lá se vai o Nilo, uma tripa de impressionantes 6.700 quilômetros de extensão.
Agora, antes de irmos em frente, há algo que você tem de lembrar sobre o Egito: o Alto Egito fica embaixo e o Baixo Egito fica no alto. É importante mentalizar isso, porque é no Alto Egito, ou seja, lá embaixo, que as coisas começam a acontecer. No Oceano Índico, que está a Leste da África, ocorrem todos os anos as famosas “monções”, que nada mais são além de ventos. Essas monções provocam chuvas torrenciais, que caem sobre o grande afluente do Nilo, na verdade a continuação do rio, chamado de “Nilo Azul”. Então imagine um bloco d’água subindo, ou melhor, descendo do Sul para o Norte, cortando a África, passando por vales, montanhas e selvas, até finalmente desaguar no “Nilo Branco”, que é o Nilo propriamente dito, agora já dentro do Sudão. O volume imenso d’água segue seu caminho e aí surge uma sequência de seis cataratas, da sexta, mais ao Sul, para a primeira, mais ao Norte. A primeira é o ponto onde começa o Egito. Como se fosse o Chuí para o Brasil.
Mas o caminho das águas não se detém na fronteira, segue rumo ao Norte, desbordando das margens do Nilo, porque o leito do rio torna-se pequeno para a parede líquida. E foi isso, essa enchente anual, que construiu o Antigo Egito. Muito antes de a Civilização florescer naquela região, há talvez uns 10 mil anos, os homens já esperavam as cheias do Nilo com a expectativa de um funcionário público aguardando pela sexta-feira. Quando o rio começava a vomitar para fora de suas bordas, os homens recuavam para ondulações do terreno chamadas de “Cascos da Tartaruga”, e lá esperavam. Quando o rio retornava ao seu leito natural, deixava na terra sedimentos ricos, perfeitos para a agricultura. Era um corredor fértil que os egípcios usavam com sabedoria para plantar e sobreviver.
Mas tudo isso acontecia sem muito método, até que, por volta de 5.500 anos antes de Cristo, eles tiveram contato com os sumérios. Os sumérios sabiam das coisas havia muito, muito tempo. Trouxeram com eles bois e vacas, trouxeram variedades novas de trigo e cevada, trouxeram um invento engenhoso, o arado, e outro mais engenhoso ainda, a roda. Trouxeram também a escrita e as técnicas de irrigação.
E assim começou a grande aventura desse povo único, os egípcios.
Sobre o que falaremos mais no próximo capítulo!

Nenhum comentário: